domingo, 27 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Direito urbano



Estava caminhando na direção do fórum. Meus pés tremiam e a visão era turva, já se confundia entre a paisagem e um ponto no infinito. Segurava a maleta preta, ela acompanhava meus passos no sentido contrário. Era um movimento pendular e frenético, eu não queria parar. Seguia o tumulto que enche o centro nas tardes escaldantes de agosto. Os carros lutavam para se movimentar nas vias que os transeuntes invandiam e não se preocupavam com o fluxo, a não ser o próprio.
Neste enquanto, minhas pernas conheciam a dor. Sentia o ácido lático no meu corpo, podia mensurar seu movimento. Queria parar. Não. Eu não podia parar. Tinha que alcançar o fórum, era o meu cansaço ou o processo mais importante da minha carreira. Eu não podia falhar. Mas o sinal abriu. Abriu. Por que diabos não esperei que ele fechasse novamente? Meus braços se moviam, possuía os sapatos sobre o negro do asfalto, o branco de tinta, o negro, o bran. Foi tão rápido. Eu não percebia, uma porta que abruptamente se abre e sou bruscamente puxado para dentro.
De repente, estava parado. Mais do que isso, estava no escuro. Algo me envolvia, não enxergava, não conseguia pronunciar palavra alguma, grunhia. Minha circulação não sei se desacelerava ou o pânico que pulsava, só percebia os solavancos do peito e o carro. É. O carro, que é a única coisa que se move e abre portas no trânsito e tem cheiro de borracha.
Pela primeira vez, ouvia uma voz. O que a gente faz com a maleta? Alguém, ao meu lado, respondia. Vamos queimar. Não. Não. Isso não era possível. Eu queria me mexer. Eles não podiam. Não tinham esse direito. Eu. Eu. Eu estava. Imobilizado. Foi quando percebi que talvez me queimassem junto. A partir desse instante, só conseguia pensar em minha mulher. Ela preferia morar em uma cidade pequena. Nada disso estaria acontecendo, se eu, na minha vã ignorância, tivesse lhe dado ouvidos.
Não havia o que fazer. Eu transpirava ou era choro, não sei, o desespero não se diz. Sentia as trepidações do carro. Elas se tornavam vagarosas. Mais vagarosas. Mais. E param. Uma porta novamente é aberta, sou jogado para fora e o carro partia.
Demorei certo tempo para perceber que estava sozinho. Não fosse o cheiro de terra e poeira, não saberia que estava no mato. Rolei, tateei o chão, achei uma pedra. Com muito custo, consegui me desvencilhar das cordas, mordaça, capuz. Via. O sol me cegava. Via. O sol me queimava. Arfava o calor, o tempo, a poeira. Eu me levantei. Não sabia onde estava, mas comecei a andar. Estava caminhando na direção do fórum. Meus pés tremiam e a visão era turva, já se confundia entre a paisagem e um ponto no infinito.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

lágrima



mar mar mar mar água

mágua

domingo, 16 de maio de 2010

III - no princípio era um vão que cai



, upload feito originalmente por mary_robinson.


estou tentando capturar um sentido
beira de estrada e significado
uma travessia de destino e vontade
assisto os corpos que passam e levam
as horas esbarradas de um encontro
que não chega
beijando, a um sorriso, grama verde
muito verde
e água que corre sem cor
permaneço na iminência de mover
o sapato risca o vento e o olhar foge

do prin ci pí cio

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"Não se pode fugir a um infinito, disse comigo, fugindo em direção a outro infinito; não se foge da revelação do idêntico, na ilusão de que se pode encontrar o diverso."


Umberto Eco - O pêndulo de Foucault









"As sombras dizem mais às pessoas solitárias, são sempre um esboço menos severo de algo. Se intensas e contínuas, o que nos resta é breu de luar, faz dos olhos nebulosas inconstantes que se abrem e apagam. Nunca sei o que realmente se passa no escuro, quando cerro minhas pálpebras, e nego com inocência infantil que o que miro ao abrí-las possa vir a ser uma miragem ou uma peça que o passado me pregou. Há muito nos instantes em que me ausento. Há tanto que horas se tornam inacabadas por milésimos de segundo inconcebidos.”



Maria parava por sabe-se lá quanto tempo, uma ou duas pitadas de ponteiros. A minha mudez era tamanha que o silêncio fazia com que meus ouvidos doessem. Enquanto ela tocava a xícara com os lábios, minha percepção mais aguçada se encontrava, penso que conseguia ouvir o líquido se movendo.







não sobre o tão fracasso.



tão. que é impossível que se sobrescreva.


uma caneta seca um papel abandonado, esperando que o vento
- ou uma brisa endemoinhada-

lhe imprima um futuro maior que o acaso.

palavras dependuradas se amarram e balançam e tentam.
jogarem-se para fora de um poço.

mas não são notadas.






)a única verdade sobre o desespero é que não se diz(

terça-feira, 6 de abril de 2010

II - O velho que sou



Ninguém saberá por meio das minhas fatigadas vistas)
Quão vazio o vazio é.
Nem as pedras do caminho,
Nem as tristezas, que de tão pequenas encolhem.
O vazio é felicidade demais.
(Ter tudo e saber nada.

elemento









não tem gênero. cor. trajetória.

impregna em todos os lugares.

não diz como. onde. quem.

nem volta.

decai exponencialmente.

mas demora.

tanto que acaba vida e ele fica.

dividindo caminho,custando limite.

de rumo e direções adversas,

sente

quem se percebe turvo, quase bêbado,

perseguindo relógio de pêndulo

cambaleando,

quer comprimir o instante,

mas não cabe no bolso.



saudade é radioativo.

domingo, 31 de janeiro de 2010




quando escrevo algo confuso,


estou dizendo tantos sentidos que me enrosco,


feito trepadeira,


que sentido maior só a vida e que Deus a tenha
.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Fotografia





Diz-se que o vermelho amargurava fino traço negro.


Toda manhã os cílíos rentes ao mundo se prendiam a uníssono tom, que era para deixar o olhar pronto, que quem o visse soubesse, - estes olhos sobrescrevem o abismo.
Enquanto segurava seu lápis bourjois, Maria, que era Maria porque não nascera Teresa, segurava também a verdade, riscava o que via antes de o ver, metia-se na vida como quem brinca, mas de fato circunscrevia a mira. Tudo o que houvesse abaixo da sua escuridão voluntária, mais singela que qualquer coisa que lhe caiba, fosse mesmo de enigma menor, nada como o que sua íris engloba.

Daí importa que tudo acabe. Ninguém se pergunte mais do que isso. Que a pergunta nem sempre traz resposta, mas inquieta.



Diz-se que o vermelho amargurava.



Mas seus lábios permaneciam imóveis, sabe-se porque não se ouvia. Talvez até caminhasse aquele que sentava. Que sua visão era o numinoso fechando os sentidos.
Alguém seguramente escreveu que ela mirava a Hera que subia os muros. As folhas secundárias verdes, como se as janelas de Maria se fechassem ao entardecer, mais escuras que sua íris. E depois o que vinha, não sei. Ela foi. Seu olhar ficou no muro. Tal hipnose de perfume inodoro. Atrai e prende, e ser presa atrai. Todo um resto de desfoque e uma impressão vaga de caminho.

Quanto tempo, que se mede aqui por abertura e exposição, os relógios já erram, cerram, suas pálpebras.


Diz-se fino traço negro.


O verde cala com Maria, que muda disse, quando viu o silêncio.
E eis que, ao abrirem os olhos de sombra,


assombro,




sentiram-se delineados por ternura.

domingo, 13 de dezembro de 2009




estou tentando livrar a cara do medo
mas ninguém vive sem furtar coroas o presente


[e uma risada embasbacada de desgosto.




terça-feira, 10 de novembro de 2009

eu [ou como se quase diz o que se sente.]


.,



Tanto o peso prendia o passo no instante mais,


uma brás ilha que se alagava, mas não movia monumentos,




soltei as amarras e flutuo.


N'um céu de mármore e grama,


caminho o tempo, antes que o tempo me encaminhe.





A falta,



J..

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

I - Moro em todos os lugares


aos cegos,
que sentem mais
do que veem



"E de novo o embrutecimento suave o dominava. O chão era tão longe que, abandonando o corpo, este por um instante experimentava a queda no vácuo."

A maçã no escuro - Clarice Lispector



"O meu apartamento fechava-se como um punho.
Eu tinha visto o cedro fincar-se no cascalho e salvar da morte o leque de ramagens.
O cedro, que combate noite e dia, na sua própria densidade,
e se alimenta num universo inimigo dos seus próprios fermentos da sua destruição,
nunca mais tem sono.
O cedro a cada instante se funda."

Cidadela - Antoine de Saint-Exupéry




I

MORO EM TODOS OS LUGARES


Tenho
a dizer em minha defesa que desde Maria não durmo.

Não carece saber meu nome, apenas que não durmo. Experiencio a defasagem temporal de 24 horas que se repetem e se repetem e se. Já não sei o que houve. Se por algum instante iminente saberia. Maria se foi com a verdade. E eu sei que em tudo eu quase sei.

A primeira vez que a vi, reparei em seus dentes, grandes, brancos, pingavam leite, queria bebê-los. Quando sorria, seus lábios vermelhos de tal rubro estranho que nenhum batom pinta, nem a rotina encontra, eram coloridos pelas horas. Pareciam esbanjar a felicidade branca do que guardavam e era inacabável. O sorriso sorria Maria fatorialmente. Meus olhos eram embebidos em simetria por cada resquício de branquidão. Lembro-me bem que, antes de me cativar, sua boca fazia questão de enrugar as quinas do rosto, espremendo rubro sobre rubro, já uma dança, tango, devorava-me a própria visão.

É mais que um bilhete roubado, não são as direções dos trilhos do trem, muito menos os sentidos que me importam. Posso estar em Viena, no Jalapão, embaixo d'água, no Ártico, no espaço, morto, que ainda o que meus olhos veem ou viam ou veriam está impresso em minha retina, a última imagem, os dentes de Maria.

Mas não. Não. Poderia ter esquecido de todo o resto a partir deste instante em que na sala 207, quando o relógio já trombava entre as horas e os minutos, a moça de véu veio ao meu encontro. Alguém diria que sua origem era muçulmana, porém um observador mais atento logo entenderia a sua paixão por tecido que plana. Os cabelos tentavam se esconder embaixo das linhas de algodão, mas a brisa que vira arremessava o conjunto para cima. E então. Somente então, eis que vem vindo, as covas, as mãos apreensivas tentam conter o véu de partir, os passos se interrompem, ela me mira de uma olhar que vem baixo e se ergue, as bochechas já róseas,
sorri.

Creio que nesse dia o céu se recusou a tirar as nuvens para dançar, por isso o vento úmido, abrigando os passos, como rosas encaminhadas, pétalas que se arregaçam, sinto que o mundo de Maria se abre neste enquanto. Ela se aproxima lentamente, tento imaginar o que procura, posiciona sua mão sobre a minha, segura-a, aperta, e agora me olhando
diz.

Esperava e continuo esperando que meu olhar dissesse de volta, mas talvez sejam besteiras que as ventanias contam aos sábados, apenas para nos advertir que todos os domingos são dotados de marasmo e solidão.

Algumas vezes os sentidos nos pregam peças, até hoje eu não sei se o que foi dito era um pedido ou uma sentença, embora tenha sido o suficiente para me arrancar da sala quase ensolarada, quase escurecida, por folhagens de cerejeiras da praça principal. O corredor que se segue porta afora, aquele mesmo corredor de todos os dias, se tornou parte da minha história dentro da que Maria haveria de contar.

É disso que tudo se trata: uma história. Nunca saberei se ela o fez para se livrar ou me amaldiçoar. A verdade é que o fez.

Certas pessoas possuem uma mania peculiar, indizível, algo arbitrário, nascem com isso, vivem ligando os outros a elas. Ninguém entende bem o motivo, se pelo jeito de se portarem, os detalhes, se buscam sempre estar próximas dos abismos alheios ou se simplesmente arrastam minunciosidades por onde passam. Eu estava completamente ligado às suas mãos, tal véu, encurralado, não foi difícil me convencer a adentrar aquele bar de mesinhas em xadrez, bastou que me mirasse.

Céus! Como se seus cílios amarrassem os meus!


Pois se sabe, quando a pertubação é tão grande, os olhos se recusam a fechar e quando fecham é para permanecerem acordados.


Depois que nos sentamos, tive a certeza de que ela não fugiria a qualquer instante - na verdade não tive a certeza de nada, mas quis me enganar que sim -, ao menos não ali. O lugar se assemelhava a um comum botequim dos anos 50, fora o fato de que também era uma sorveteria. Entre os golpes toscos de cachaça, crianças e seus avós embriagavam-se de açúcar em potinhos de neve, todos os risos eram bêbados.

Guardar histórias no bolso da camisa, na sola dos pés,... Ah... Tive a impressão de que quem frequenta essa iguaria guarda mesmo histórias embaixo das unhas, discretas, doloridas e grifadas em carne viva.


"É longe". Foram as primeiras palavras de Maria.

E finalmente deixou que o véu escorresse por cima de seu colo.



sábado, 4 de julho de 2009

: há,


http://www.flickr.com/photos/dcdead/

como que um pedido, o sopro. delicadamente folha a folha se eriça até seus pés. os olhos cerrados só percebem a luz rarefeita deixada pelos cílios que se erguem. um chiado, o vento toca o campo com notas de pressa e sossego. o frio lhe serve de desculpa pra cravar as unhas de braços entrelaçados na pele. as rugas dos olhos que não são de idade expremem célula por célula, uma sobre a outra, apaixonadamente, fazendo da visão um limão partido, em que seus gomos são forçados a se compelir e, na desistência de se deixarem, liquefazem.

Maria, Maria, se a solidão só destila fraqueza...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

http://www.flickr.com/photos/jup3nep
e o ar golpeia tanto, entre os dentes, a língua, um tato dentro do sabor, antes de sibilar, um sopro, não, um gole, quase galope, golfadas de atmosfera pelas narinas
: eu emudeço. porque não dizer é dizer mais. para si, o som reverbera milhares de vezes e sentencia o infindável. minha maneira prodígia de tortura

sábado, 20 de junho de 2009

título omitido


Bem que pensava um tom a mais, um toque a menos, tremeluzentes vão-se os dias, o que o todo forma não é por exato o que o todo é. Iurick soube antes, não haveria de ser inteiro, mas eternamente parte, o imutável bateu a sua porta e não arredou o pé.

Maria, minha querida Maria, por que nos faz de tão tolos mais tolos sermos?

Ele tocou seus fracos pontos, nós que já desatavam e pediam nova costura, entregou gotas do frasco que bebera até o quase fim. Cecil tinha Iurick contra os lábios, seios, mãos, pernas, cabelos, pés, a um metro de distância.

Insistiam em controlar o peito, mas, descompasso, não seguravam o bater, nem por intermédio, por que, Maria?, queriam resistir, por que não os deixou?

Sem saber que em verdade logo cada qual escorreria pelos dedos, onde sempre estiveram, em posição de escape. Eles ultrapassam as barreiras do espaço e atropelam o tempo, que insiste em favorecer a velocidade dos ponteiros, mas engana-se quanto ao momento, já que este é físico, possui tempo específico, a duração é minha poeticidade.

A lembrança que vibra nos ouvidos de Iurick não é a mesma no paladar de Cecil e nenhuma delas condiz com a de um observador inercial. O gosto do azul da sua voz percorre abismos alucinantes no som claustrofóbico do seu quase toque hermético.

Maria, alguém disse que no presente vivemos o futuro, mas algo me elucida que no futuro vivemos o passado.

De peso e leveza ficou todo o empuxo, como pode um navio flutuar e uma bola de chumbo afundar? Sabem tanto como nada sabem. Nunca vos importou a força gravitacional, somente o meio, porém disso apenas Maria conhece e omite. Iurick e Cecil nunca se distanciaram. As diferenças que os cercam foram as mesmas que os mantiveram iguais. A couraça do coração que descasca, no tempo específico, se iguala ao coração que nasceu descoberto e endurece.

São dois corpos colididos, mas propagam-se em ondas. Fincados no chão, permeiam seus espaços. Ela que é invadida por ele o invade e são.

Ah, desejo das estrelas, a morte só aparenta imagem no futuro de outrem. Por que até mesmo a luz sofre barreiras em percursos infinitesimais?

Se ao menos pudesse escrever uma sinfonia de cores, tocaria movimentos. Maria, Maria, sabemos que estão envolvidos pelo éter dos que se encontram e viver é mais puro que o vácuo e sua fragrância é destilada.

Estou lhe escrevendo, Maria, e escreverei pelo resto dos dias.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

breve nota da lapiseira maluca

ando tentando criar personagens mais parecidos com a minha realidade, quero dizer, sinestésicos.
avisem-me se estiverem intragáveis(!).

domingo, 14 de junho de 2009

sois (em) g maior


- , ainda resiste, Nyala.

Esnobando a indiferença das pálpebras que caem para não encontrar o que agora encontram, soergue-a pelo queixo e abusa de sua retina, contraindo pupila adentro. Fá-lá-se mirar Nyala.
É muda, carregada de verbetes que os dicionários tentam calcular progressões infinitas ca la das, mas Nyala finda. Só Nyala finda, ninguém pronuncia o que Nyala impronuncia. Girau a segura, punho a dentro, hermeticamente pensa que pensa o que pensa. Girau deseja tocar Nyala. Deseja senti-la, mas seus dedos não ultrapassam o projeto de casca que finge se guardar.
Ela força o corpo dele para se desvencilhar, afasta, e, enfim o fita, laço de fita, ele a prende no iminente andar. Era uma tortura, afinal, amá-lo em cores, mal ele saberá e melhor que esqueça antes que tropece em sua profundidade magnética, 'mundo, mundo, vasto mundo'.

- . E não será, Girau, o irresistível,

sábado, 30 de maio de 2009

Maio


Depois de cruzar os dois abismos dos pés, entre as solas dos sapatos e o espaço que os desune. Cruzar tão infinitamente que reside. E do que foi nada permanece inteiro, fiapos trocados, um mosaicosemfluido, descontrolados, osmoses interrompidas. Depois, bem depois, que um segundo é mais denso que uma vida. Longe de breve, perguntas recorrentes se calam. Não queria respostas, pontuações, colóquios. Obsessivo demais para um banal fim. Desarma, patas que desarticulam, peito que desabrevia, des-conhece des-maio.
Agora, perto, atinge a distância imensurável do que não se controla. Pânico, escorre pelos dedos, viscosidade inválida, não prende, não guarda e no entanto valeria mil abismos. Não é amor, nem ideologia, é dilema. O caso é casado com o descaso do que na verdade descasca. Diz casca, onde deixou meu vínculo que não enxergo a não ser na escuridão da pálpebra cerrada? Diz! Porque o que sinto sinfonia. O que ouço se move e o que se move se colorimetria. Mas que parte existe e qual outra se cria?

domingo, 29 de março de 2009

Abisséu

desenho: http://deleitecomvagalumes.blogspot.com/
Peco com o sangue dos pés, um alastro de caminho, ruptura. Esqueci que a solidão favorece o descanso do medo. Mas seu desuso pode ser fatal.

É essencial temer.

O quê? Não sei.

E o que digo pode nem ser imbuído de verdade. E não é.

A verdade reside na mentira, a partir do milésimo de instante em que não é absoluta.

E se segurar sua mão significa mais a outrem do que a nossa universalização de encontro, então é melhor que não se vejam, que não se toquem, nem acenem. É melhor que minha idéia corra da sua. E uma sinapse sofra regressão.

O que é talvez a coisa mais estúpida que eu vim dizer nessa caixa de texto.

Mas para alguém que antes se escondia atrás de um caderno e por enquanto se esquiva atrás de números, talvez o melhor seja voltar aos mundos internos. Onde a solidão é só um acompanhamento provisório.

Os papéis de tanta inversão sumblimaram, e agora gotejam,


e agora.



Se quiserem me encontrar digam a eles que

a b i s s e i.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Assalto à-moral

http://flickr.com/suzen

Num brechó localizado no centro histórico do Rio de Janeiro, havia duas cadeiras. A primeira oriunda de um burguês falido do Leblon e a segunda da família de um traficante morto. Entre os burburinhos das pessoas, elas conversavam:

- O centro tá cheio hoje, hein?
- É...
- Acha que vão te comprar?
- Quê isso, bróder, tô acabadona e tu?
- Ah, sou muito cara e não vejo socialites por aqui.
- É, tá loco, mano, medão de ser assaltada ou morrer.
- Verdade.. Como que era lá no morro?
- Fogos de artifício e tiro ao alvo sem prendinhas. E lá no aparti?
- O garanhão não trabalhava, vivia de herança, mas depois de tanta amante perdeu tudo na justiça.
- Sei como é... Ah, nem... bem que podiam tirar a gente do sol, né?
- ih... Olha lá o tipo, hein?
- Tirou uma nota de cem, mano, burguês vestido de tráfico.
- De vez em quando, eu acho que eles são um povo só.
- E são, mas fingem que não.
- Olha o arrumadinho, aí.

"Assalto!" "Assalto!"

Roubaram tudo e as cadeiras foram quebradas.

Tatuagem

http://www.fotolog.com/de_oleacea

Caminhando com uma caneta no bolso, eu sento na calçada e penso nas milhares de histórias que ela pode contar. Seja rabisco ou palavra, signos novos e velhos, guardados na tinta e na mão de quem escreve. Pelas madrugadas, enquanto essa crônica é construída, eu entendo finalmente o caso de amor do papel pela cor que a caneta de fina ponta o corta metaforicamente. É um caso que o o Homem induz e assiste, porque não podia viver sem.


Na imensidão do Homem existe um abismo que só pode ser visto sob a óptica do risco no papel. Que nem sempre foi papel. Foi pedra pintada por antigas civilizações, outras vezes entalhada. Até chegar na forma branquinha, houve um caminho árduo com papiros e pergaminhos. E não pôde ser a bruta mão humana quem continuava a pintá-la, dedo a dedo, ou um pedaço de pedra, primeiro veio a pena. Com ela, tinteiros se derramaram de cartas, petições, notícias, livros e desenhos.

Caminhando com uma caneta no bolso, eu carrego a obra prima da tradução da humanidade, lei a lei, regra a regra, linhas permeadas ou não de poesia. Quem olha de longe, tão comum, pensa, " é uma moça com caneta no bolso", "só". Mas dentro do tecido da minha calça cabem coisas incabíveis, que conseguem apenas transbordar para o mundo. É por isso que passo noites inteiras de insônia com a mão coçando. De tantas idéias saltando, elas escorrem e fogem do tempo de riscá-las no papel branco.

Branco, como milhares de cores juntinhas e girando rapidamente. Entre pilhas de guardanapos e chamex, as paredes da humanidade soerguem nesse abismo louco chamado linguagem. Discurso a discurso, o papel segue o curso que a caneta comanda, num rio de tinta de correnteza, que a mão realiza por não conseguir deixar de ser parte. E nesse depende-e-depende, o Homem não vive sem a caneta, nem ela sem o papel, assim como o papel não tem sentido sem o Homem.

Caminhando com uma caneta no bolso, eu sou Homem e papel, e, papel e Homem, me rabisco.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Záaaaaas




Penso mesmo que mulher é feita de chumbo,

chora só pra fingir que não é forte.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

com fome de vazio



Jéssica anda...


desanda.

domingo, 30 de novembro de 2008

foto: wadegriffith
Coloridades: - Jéssica mandou dizer que sente falta de vocês. E que logo estará de volta, falta só uma semaninha para o tal do ita e a segunda fase da ufg. (!) Travessuras.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Entrefolhas.


"Antes de volver a dormirme
imaginé (vi) un universo plástico, cambiante,
lleno de maravilloso azar,
un cielo elástico,
un sol que de pronto falta
o se queda fijo
o cambia de forma."





MusicPlaylist
Music Playlist at MixPod.com


Visitar a sua cidade natal, mesmo que você a freqüente em 15 e 15 dias, pode ser um tanto estranho ou, quem sabe, pertubador, se, há mais de seis anos, alguns meses, outros dias e muitos segundos, você não volta àquele específico lugar em busca da pessoa, justamente, a pessoa, que já se sabe o desparadeiro. Quero dizer, ontem, isso, ontem, eu rumei pr'aquela bendita instância, buscando as respostas que conjeturam aglomerados de perguntas, desencontradas em qualquer outro posto avançado. E é esquisito como que, por mais que a cidade cresça, aquele prédio de finanças continua com o mesmo cartum desgastado de 30 anos, um bonequinho de nariz gorducho e corpo no formato de bacilo de Koch. Na verdade, esquisito é se lembrar perfeitamente como que, em torno dos 8 anos, adorava aqueles olhos esbugalhados que talvez me provocassem um riso frenético.
Hoje, não mais.

E as caras das pessoas, antes tão familiares, já o são tão disformes. Em seu conformismo, povoam as ruas, deformam a paisagem antiga que eu procuro. Procuro. Nada. Será que errei o caminho? Disfarço, olhando de rabo de olho nas placas das ruas, os nomes idênticos, tento me convencer que não, mas a rachadura, no canto esquerdo, no endereço da casa da rua principal, não deixa esconder o fato de que fui eu quem a causara.

Por incrível que pareça, perdida, no meio do subúrbio, existe uma mata particular, não tão densa quanto uma mata deve ser, mas mais densa que qualquer mata de significado. Atrás dos portões de madeira rústica, escondia-se um senhor e sua senhora e ao pé da cama uma dama da noite. Escondia-se também o senhor dele mesmo no meio de muitos livros. Escondia-se tanto que tinha receio de deixar a porta aberta, lá fora era só sua senhora, dentro, não era ele nem sua senhora, era capítulo, tinta, pólen e pena. Interno, podia confessar todos os pecados de quem quer que fosse, picá-los, despicá-los, misturando-se, enfim, aos sonhos. Sonhava com fragmentos de muita gente. Queria ser capaz de unir mundos, chocar mundos, fazer terremotos, mas para isso só tinha palavras. Signos de diferentes origens, tanto figuradas quanto geográficas, uniam-se em discursos sonoros da brisa que roçava as jabuticabeiras e amoreiras.

Cuidava da sua horta aos fundos como que dos filhos que já haviam crescido. Cuidava mais por esperança, as plantas tendem a nos obedecer. Embora gostasse mesmo era da bagunça, raíz que infiltrava por todo lado, folha seca que só o vento tinha permissão para levar, flor nova, flor jovem, flor passa, o tempo em tudo.

E eu ali.

Era o quê, meu Deus? Talvez me encarregasse de que as folhas não seguissem sempre a mesma ventania, trocando-as de lugares com meus pés de curto mundo. Talvez alguém que tinha muito medo e o matava de pouco para não fazer sangria. Talvez caminhasse com mais certeza de que hoje e só lamenta ter deixado velhos esconderijos, que de tão bons nem assim eram chamados. Eram mesmo seus segundos lares, enquanto que quem visse de fora mirava apenas uma menina quieta no meio de muitas, muitas, plantas e uma conseqüente reação alérgica que levava sua mãe à loucura. Podia ser empolação de tanto contato inseticídeo ou falta de pudor ao abrir uma porta no chão de um xalé, abaixo de um tapete vermelho com desenhos azuis, onde se escondia uma adega e muito mofo evidente.

E ontem.

Ontem, eu fiz questão de usar o sapato mais baixo, o short mais curto e a blusa mais cavada, só para ter a certeza de antes, ao me esparramar por aquela grama, em que cada poro à vista fosse irremediavelmente acometido por brisa, bicho, empolação, livro, mofo, adega, rubro de amora-madura, esconderijo, pitanga, pedras gigantes e lisas, o senhor e sua senhora. O que pode ser algo que o cartum de 30 anos remeta a uma pessoa ou um pé de figo invisível ou órion ou um endereço riscado ou um texto bobo feito esse.

É que, inebriados nisso tudo, ficamos nós entre o tempo.

Ficamos nós entrefolhas.



sexta-feira, 31 de outubro de 2008


y aquel que mira afuera
ni acredita
que aquí se guarde
las puentes
para más de dos mundos

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Até a terra dos medos (parte 1)


Sugar Rain...................Sugar Snow, upload feito originalmente por ƒreg.

"el uno en el pucho del otro, nos frotábamos con los ojos, estábamos tan de acuerdo en todo que era una vergüenza,..."


(o primeiro no resto do outro,
nos esfregávamos com os olhos,

estávamos tão de acordo em tudo

que era uma vergonha,...
)




Andava apressada naquela manhã chuvosa de novembro. O coque mal permanecia intacto e as mechas lisas teimavam a escorregar de encontro aos olhos. Nem tivera o tempo de mirar o amassado corriqueiro na barra do vestidinho branco. Ajeitou a cruz vermelha em chapéu e rumava para o asilo. Acordara tardiamente ou eram seus pés pequenos demais para o chão em tão curto enquanto. E esse guarda-chuva (!). Que guardava mais chuva que ela. Cada gota a fazia mover com maior freqüência, meio que a se enganar que chegaria límpida - e pronta o suficiente para não perder o emprego.

Agora via o portão entreaberto no qual a água ricocheteava, respingando no seu rosto. Preferia ignorar qualquer erro, pensou, quase tomando as grades azuis descascadas com o punho esquerdo. Menos aquilo. Um corpo, quase um homem, solapara no asfalto, arrastado pela jorrada, vindo bater na grade dois metros ao seu lado. Caminhou na sua direção. Sangrava, mas seus olhos continuavam absortos, não aparentava dor. Apoiou-o em seus braços e enquanto adentrava o asilo ele parecia não se importar. Na verdade, parecia mesmo nem notar a sua presença, como se ainda estivesse sendo levado pela chuva.

A sombrinha entrou guiada pela corrente de água no nicho que a porta aberta deixara, batendo nos pés de um idoso.

-Belinda, você voltou?

-Não, Serafim, sou eu! Preciso de ajuda, vá chamar os outros enfermeiros.

Ela pegou a maca já em desuso, devido aos mínimos acidentes que ocorriam, e o depositou. Guardou-o ali como se fosse uma caixa perfeita. Geometricamente perfeita. Olhou em seus olhos outra vez. Lembravam vidro. Será que havia perdido muito sangue? Não, Não... tinha certeza de que o trouxe o mais rápido que pôde. Foi chegando mais próxima do rosto, devagar... Encostou sua testa na dele. Piscou.

-Eu não sinto nada.

Esborrachou apavorada e desconcertadamente, ele tinha alma afinal.

-E só agora me diz que vive? Como não sente?
-Tenho CIPA, não sinto dor.
-Oras, mas supostamente você deveria sentir ao menos a pressão do toque.
-É, creio que minhas fibras de compressão atrofiaram ou de tanto só sentir esboço, esqueci de apontar o lápis outra vez.
-De qualquer forma, não sairá daqui até cuidar desses ferimentos... é.. hã...
-Ernesto.

A enfermeira sorriu.

-Os outros devem estar a caminho.
-Obrigado, Marcela.
-Por nada... Ah!Como sabe...
-Quem não sente nada, ao menos alguma coisa tem que enxergar.
-O quê?
-Seu crachá.
-Já tinha...
-Eu sei. Pode ir, não se incomode.

Saiu atrás do seu guarda-chuva, um tanto embarassada, sabendo que teria que ler novamente a mesma história para o Senhor Carmela. Já se estranhando, trouxe a esse asilo a entrada de duas almas - temporalmente avessas.



segunda-feira, 20 de outubro de 2008


O silêncio da chuva. Começa com a primeira piscadela de uma gota para o chão. De pouco, indivíduo a indivíduo se esconde. Embaixo d'uma folha, dentro do tronco seco, num buraco, uma casinha de barro, paredes de concreto. Animal, monstro, homem, quando o friozinho do vento úmido chega, hiberna numa toca em busca de aconchego. O lado de fora vai ficando um tanto mais quieto, dança do abandono de água e ar. E quem se atreve a desbravá-lo sente o barulho do seu passo acompanhado. Para tanto, que sente que não emite som, nem chuva, nem vento. Sente mesmo é o barulho da calma; ouve no tempo um silêncio sem solidão. Quem tem coragem enxerga num vendaval, por mais danoso e urgente de fuga, um refúgio. Quando todos se guardam por dentro, ele se encontra na casca. E essa casca é a coisa ainda que não se vê povoada de som, é o silêncio da chuva e o carinho do vento. É o meu desespero esvaziado pela fuga do mundo. Esvaziado, o mundo, pela fuga do espero. Mas a corrente de ar não dá passagem, não agüenta, rasga, atravessa vestida de chuva. E eu?...

Dispo o vento.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A-pesar


Nasser caminhava pelas vias do fórum em busca da mecanografia, precisava de cópias de um processo pelo qual indiciou uma empresa. No caminho, via sua imagem refletida nos espelhos do Hall, esse não podia ser ele. Lembrava-se fielmente dos lindos cabelos que escorriam pelo rosto, que agora haviam sido tomados por uma calvície irreparável. O que mais lhe incomodava eram as rugas, sempre tivera um rosto tão rijo, para onde ele foi?

Parou de súbito ao perceber que quase trombara com a fotocopiadora. Sentiu que finalmente solucionara sua charada existencial: queria ser uma fotocópia de quando era jovem. "Por que é mesmo que isso devia se perder?", indagou-se. A esposa já não era a mesma, nem mesmo os olhos, aquele brilho de recém-casados envelheceu com o resto do corpo, com a alma.

Semana que vem faria 50 anos de idade e 30 de casado, já com as cópias nas mãos, talvez devesse comprar uma jóia para Alin, ela merecia por ter agüentado este traste. Já não é mais tão bom na aparência, no conforto, muito menos no sexo, não sabia como ela suportara. Nem Nasser se suportava.

Teresa o interrogou no caminho de volta sobre algo que não deu ouvidos, talvez esse fosse o motivo pelo qual batia freneticamente na porta de vidro da sua sala agora. Abriu a porta. "Diz". Ela o fitou de cima em baixo, os mesmos sapatos, o mesmo terno, a mesma gravata surrada de sempre. "Eu não acredito que você se esqueceu..." Mas é claro que iria se esquecer da festa "surpresa" para aniversariantes do mês da empresa. Era sua sentença de morte, do quão mais próximo ficava dela.

Virou as costas, deixou Teresa gritar, deixou o escritório na lista de espera, precisava de Alin, ela sabia dele, de antes, do brilho fosco e envelhecido. Tomou o volante nas mãos, fez curvas bruscas, tais como as que nunca ousara fazer durante a vida nova. Abriu o portão, alcançou o quarto de hóspedes, ela continuava lá, naquela maca, imóvel, muda, com aqueles olhos absortos. Beijou sua fronte. Nasser sabia que ela não o via por fora, mas ainda inteiramente por dentro. Para ela, Nasser não tinha rugas, nem calvície, tinha saudade.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Precisa-se de

foto: http://flickr.com/narlik


tubarão disposto a me decapitar delicadamente conciso.

frizz: delicadamente conciso.



sábado, 11 de outubro de 2008

Em 1977

" Clarice Lispector: - O que mais lhe perguntam?
Lygia Fagundes Teles: - Eis o que me perguntam sempre: compensa escrever? Economicamente, não. Mas compensa - e tanto - por outro lado através do meu trabalho fiz verdadeiros amigos. E o estímulo do leitor? E daí? "As glórias que vêm tarde já vêm frias", escreveu o Dirceu de Marília. Me leia enquanto estou quente. "

(o Rodrigo merece ouvir isso)

~*~


Diretamente dos confins dos meus miolos para vocês

o primeiro livro deliciosamente ilustrado:

http://seessahistoriafossesua.blogspot.com

terça-feira, 7 de outubro de 2008

volteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei (:


Emanuelle

não desejou escorrer dos olhos dele
mas que culpa tinha?
se a partida goteja saudade.

domingo, 28 de setembro de 2008

olá, minhas caraminholas! (;

Não, não trago notícias da minha boa volta. Nem vou perder tempo dizendo o que vocês já sabem...
Trouxe mais uma mini-leva de poeminhas de bolso:


"
De Casco

Seja casulo ou carapaça
na cabeça do poeta
só existe um dilema
sem cruz ou espada:
asa ou caneta, eis a questão? "

~*~

"
Lamber o céu com o suor dos dedos

(Os Acordes de Deus) "

~*~

" O corpo movia-se tal como uma pena de chumbo, fomato de sonho e peso de realidade. Pé ante pé, a brisa viscosa escorria pelos seus dedos com frieza. Não era bom em avistar, mas ao longe um poste se apagava. Mania popular de achar que é mau presságio, Técio discordava. Preferia acreditar que um feixe de luz muito forte, provavelmente de um corpo estelar terrestre, atingira a foto-célula. Sua racionalidade lunática pensava que cada ser emitia feixes de luzes, alguns muito especiais, do tipo que só se encontram em nebulosas no meio do universo negro. Tinha ganas de desenvolver um foto-receptor só para alcançá-las. Se fosse possível guardar luz em frascos, catalogaria em código morse uma biblioteca inteira de áureas.

(ainda não sei o que fazer com isso no livro2) "

~*~

"Primeiro olhou para si naquela posição fetal, vasculhando a vida alheia feito criança curiosa. Depois o degrau. O seu número, mas não era seu nome. Será que podia... ou era evasivo demais? Já tocava as letras, antes mesmo de pensar se certo ou errado, tocava... To... ca... va...
Ilana se deliciava com cada canto de versátil aspereza, o cume ou vale de signos, que, confusamente, sentia que eram seus. Tomar posse ou não, no fundo somos todos uma salada, uma progressão de infinitos termos que se misturam aleatoriamente em seres que podem ou não se conhecer.
Bateu. "

~*~

Nada de superhiperultramegapowermasterblaster, mas é que achei que devia retribuir as visitas caridosas. (:

Recados:

-Evy:Flor, quando saíremos eu, você e o Rôs?

-Rôs: Continuo gostando dos seus comentários em branco.

-Solin: Como anda a leitura do livro? Espero que esteja entendendo, não pude te acompanhar como queríamos... Mande-me sinais de vida.

-Márcio: deep, deep. Desculpa minha ausência. Continuo estocando o feijão, bróder. Nosso pf não vai ficar sem haver.

-Odranoel: Querido, obrigada pelas recentes visitas. (:

-Luiz Felipe Leal: É um prazer te ter no blog, mesmo com duas palavras. hum! Tenho uma leve e consistente impressão de que conheço a música do seu site de verbo reflexivo. Achei bonito o espaço. Lau disse que estava em busca de material, vou mandar umas edições de jornais próprios e amigos, todos independentes. Espero que goste.

-Paty: Volte sempre. (:

-Anônimo: Seria muito óbvio perguntar quem é, certo? Muito grata.

-Luna:Uma flor para você.

-fantasmas: "Eu seeeeei que vocês ainda me habitam", berrou coloridades, o blog-aprendiz.

domingo, 24 de agosto de 2008

Ai, eu sei...

Tem um quarto de século que eu não entro aqui. E dói. Terceiro ano é uma coisa chata, faz você se esquecer de si mesmo, tentando se lembrar o tempo todo. Decisões. Aquele puta primeiro passo para arcar definitivamente com todas as conseqüências e responsabilidades que surgirem. É, é, é. Pelo tempo que os senhores e senhoras me lêem, sabem que por mais que eu enxergue as diversificadas cores do mundo, sei muito bem quando tudo fica pesado, forte, escuro e decisivo. A fantasia e a realidade possuem limites coexistentes e ilimitados. Mas, fatos, em uma tela branca quando se permeia de uma cor muito escura, por mais que se jogue branco, cores pastéis, ela reside. Uma tela ter esse marco constante pode ser bonito; ou não. Depende do que você transforma, da sua intenção. Pode depender até mesmo da velocidade com que é feito o traçado de tinta com o pincel. De tudo.
Que seja. Para completar a tríade de carga horária excessiva, dúvidas escabrosas e provas ordinárias, me mudei. Quero dizer, de casa, endereço e telefone. Opa! Vejamos, sem telefone. E internet só com lista de espera no condomínio. Então, nem as madrugadas me deixam postar coisas. Sim, estou com saudades. Dos melhores comentários do mundo, mesmo que vazios, mesmo que sem signos, sem nome. Esse blog guarda muito de mim. O resto... Ah, o resto! Fica nas pessoas, nas gavetas de papéis e fotos, na biblioteca.
Talvez exista um pouco de mim em um cd,.. Mas só se fosse o cd. O cd que fosse só do Bruno... Ultimamente, ele que musica tudo meu. Tem vez que só me traduz. Tem vez que ele diz tudo e acha que não disse nada. Tem vez que não tem vez nenhuma e é aí que tem. E nem é caso de amor. Quem sabe? Amor tem lá suas variadas formas. O Bruno distante me entende de perto. Poucas pessoas fazem isso. O que inclui a Evellyn, o Rodrigo e o Márcio. Batendo asas, em silêncio, malemolente e ácido, nessa ordem, eles fazem meu mundo.
Outro dia, escrevi um texto de nome "Tatuagem", só aí que eu entendi onde que me cabe com eles no mundo, entalhado em braille na carne viva:
"Caminhando com uma caneta no bolso,
eu sou Homem e papel;
e papel e Homem,
me rabisco."
Obrigada, Eu (me) (ch)amo vocês.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

(escrevi para alguém)

mas acho mesmo que, vendo a vida como uma torcida, a gente carrega no peito a única que consegue nos carregar. nesse fecha-e-abre válvula, bombeia no corpo o meio que faz na íntegra o motivo de levantar em cada tropeço. e, quando tudo isso pára, é como tirar a chave da ignição, o calor escapa e por dentro fica frio e seco, restando só na lembrança de alguém o constante fecha-e-abre que existiu outra vez.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Confissões de um diário


Às vezes o(me) sinto como a poeira dos meus(seus) móveis. Acumula sem eu(você) notar. E, quando percebo(e), tiro(a) de lá com um pano úmido. Menos que um travesseiro, é(sou). Apenas mera pluma que favorece o encosto, mas nunca presente nos meus(seus) fetiches.

Tralhas

Em época de mudança a gente acha cada coisa... Meu quarto é um vale de papéis e quem me conhece sabe que eu estou sendo bem generosa, existem vales, picos, fossas e erosões de papéis ali. Guardo para cada ano um caderno, quando não dois e escrevo em guardanapos, paredes, papelão, papel higiênico, qualquer coisa, se o esqueço. Encaixotando todos os meus livros, que reunem mais de trezentos títulos (em ordem alfabética por escritor), e esvaziando minhas gavetas atoladas de coisas, arquivos e possíveis livros, tudo à mão, todos os meus originais, encontrei algumas coisas de que gosto e me esquecia. De presente pra vocês:
~
Traidora
Eu sou a prostituta das palavras
O demônio da verdade
E a amante da mentira.
Eu vivo num cinema,
mas esqueceram de apagar a luz.
~
Prezado Senhor Redator,
Eu não gosto muito de ter que escrever para escola ou na escola, não é algo prazeroso para mim, francamente, é algo que me irrita um pouco. Enxergo uma grande complexidade nos temas e travo na hora de escrever em tão curto espaço de tempo. Acabo por escrever de um jeito obrigado, razoável aos olhos de um corretor, mas completamente medíocres perante os meus. Vejo nos meus textos o que eu nunca perderia tempo para ler, uma completa desimportância óbvia.
Grata.
~
Dicionário do Otimista

*Mas quando teu amigo te diz que a coisa ficou preta.... ele só está querendo dizer que a energia acabou por agora e, até que ela volte, vocês podem usar velas e fósforos.
*E, quando tua mãe te chamar de irresponsável, não fique triste. Ela só está querendo te informar que teu futuro artístico é bastante promissor.
*E também, quando alguém te diz que está morrendo de tédio, ele só está querendo tua companhia para colorir o resto do dia.

~

Se essa história
Se essa história fosse sua

Eu mandava
Eu mandava loucurar
Com idéias
Com idéias de brilhante

Só pro meu
Só pro meu amor passar
Nessa história
Nessa história tem um câncer
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração.

~

Autopsia



Jaz em mim um abutre. Suga meu tempo, fisga tecido, vascular, ninguém mais sabe o que escorre por esse cordão, umbilical. Que tipo de mãe sou eu? Do tipo não-mãe. Quero dizer que ele me viu e cheguei a pensar que amar estava longe do peito, era tudo junto abocanhado, meu corpo molhado e os olhos cheirando a gozo. Era. Ele me deixou sozinha, com um outro coração abaixo do peito. E eu me deixei grávida de vazio, desejando dois corações saltando fora.
Quase deixei estraçalhar o ventre por dois ou três açougueiros, vender meus tecidos à esmo. Minha carne, leiloada junto ao meu prazer. Meu corpo antes impecável viu resto, medo, medula. Só quero largar, partir, morrer, deixar...
Caminho vagarosa, feito um anel abandonado pelos dedos. Dissseram que eu mataria meu pobre abutre de abandono anelar, mas ele não merece esse meu sangue solitário; gene vulgar, gire na roda gigante dos abandonados e abandone em mim esse mau trato.
Perfure meus pulmões a bicadas, agarre meus ovários, torne-me infértil, digira meu gozo. Deixe nessa morada todo o rancor e voe, Fênix. Para fora, porque para dentro só existe vazio cheio, silêncio.
Permita-me apenas enrolar-lhe em um manto, enxergar sua pequenez e enfim libertar. Largue aqui a morte de quem nasceu deixado e rode gigante para ser o que puder.

Mãe Órfã.


~

"Por hoje é só, pessoal."